Um cantar pleno de ancestralidade no qual ressoam muitas vozes: as mensagens dos orixás, as preces aos santos, as cantigas populares dos brincantes de folguedos, os clamores dos manifestantes contra as opressões, as falas de teatro, a expressão genuína de inúmeras narrativas da cultura do Brasil. Assim é Maria Bethânia, uma artista que tem, em sua voz e performance singulares, um entoar de liberdade e celebração da arte em quase 60 anos de carreira.
A obra e o legado da cantora foram homenageados, na noite dessa sexta-feira (15), pela Universidade Federal do Ceará com a entrega do título de Doutora Honoris Causa. A cerimônia, marcada por muita música e emoção, ocorreu na Concha Acústica da Reitoria e foi conduzida pelo reitor Custódio Almeida, acompanhado por integrantes da administração superior da UFC. Estiveram ainda presentes o governador do Estado do Ceará, Elmano de Freitas, e o Ministro da Educação, Camilo Santana.
A solenidade teve início com a apresentação dos músicos Pantico Rocha e Alisson Félix, que tocaram as músicas “Começaria tudo outra vez”, de Gonzaguinha; “Sonho meu”, de Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho”, e “Iluminada”, de Jorge Portugal e Roberto Mendes. Logo após, adentrou o cortejo de autoridades universitárias, ao som da canção “Reconvexo”, interpretada por Aparecida Silvino.
Caminhando em meio a um público que lotou o espaço, Maria Bethânia foi acompanhada em seu cortejo pelo reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Paulo Miguez, pelo pró-reitora adjunta de Cultura da UFC, Glícia Pontes, pelo diretor da Casa de José de Alencar, Leandro Bulhões e por dois fãs, Veridiana Martins de Oliveira e José Olinda Braga, este último, professor do Curso de Psicologia da UFC. Na ocasião, Luiza Nobel cantou “Carcará”, de João de Vale e José Cândido da Silva, enquanto o espetáculo de projeções “Oyá”, desenvolvido no Instituto de Arquitetura, Urbanismo e Design da UFC, trazia referências imagéticas alusivas à trajetória da artista.
A cerimônia seguiu com leitura do currículo da homenageada pela cerimonialista Cláudia Lordão e com três momentos de saudação a Bethânia: pela professora e cordelista Paola Torres, que declamou um cordel que escreveu para a cantora; pelo babalorixá Shell Santos, representando o terreiro de candomblé Ilè Ibá Àsé Kpósu Aziri, o mais antigo de Fortaleza, que destacou a representatividade do momento para os integrantes de religiões de matriz africana; e pela professora Maria Juliana Linhares, do Curso de Música da UFC, que cantou a música “Oração de Mãe Menininha”, acompanhada pelo músico Escurinho.
Na sequência, o reitor Custódio Almeida anunciou a entrega do título de Doutora Honoris Causa à Maria Bethânia, com a aposição da samarra (espécie de túnica) sendo feita pelo ministro Camilo Santana, e do capelo (pequeno chapéu) pela própria artista, declarando Custódio Almeida que “em geral é o reitor quem coloca, mas uma rainha coroa a si mesma”, passando o símbolo doutoral à cantora.